quarta-feira, 25 de abril de 2007

Mais do que tédio

Não consigo manter minha mente focada em nada. Estou dispersa, desconectada e descontente com tudo. Muito pouco na minha vida está me satisfazendo completamente, nem mesmo esse blog estúpido onde sempre tento me expor inutilmente. Essa hora que não passa, esse final de semana que não chega, e que quando chega acaba rápido, esse trabalho mecânico e mal remunerado, esse curso entediante, essa falta de vontade em descobrir e investigar o novo, essa apatia e indiferença na relação com as pessoas ao meu redor, esse cansaço físico e mental que nunca acaba, essa tontura que parece que sempre me levará ao desmaio. Tudo isso me desanima e me faz retornar para questões que pensei já ter resolvido.

Sempre quis ter a oportunidade de me relacionar com o belo, com o artístico, com o erudito e o intelectual. Essa oportunidade está bem aqui. E o que eu faço? Ignoro-a. Eu nunca vou me entender.

Me sinto tão pequena e mesquinha. Eu poderia ser plena, poderia estar aprendendo com esse momento, poderia estar fluindo. E o que eu faço? Me afundo cada vez mais em minha vontade de desertar de mim mesma. E é o que estou fazendo, dia após dia.

Gostaria de poder não respirar para nunca me acordar.

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Esquadros

Eu ando pelo mundo prestando atenção
Em cores que não sei o nome
Cores de Almodóvar
Cores de Frida Kahlo, cores
Passeio pelo escuro
Eu presto muita atenção no que meu irmão ouve
E como uma segunda pele, um calo, uma casca,
Uma cápsula protetora
Eu quero chegar antes
Pra sinalizar o estar de cada coisa,
Filtrar seus graus
Eu ando pelo mundo divertindo gente
Chorando ao telefone
E vendo doer a fome nos meninos que têm fome

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
(quem é ela, quem é ela?)
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle

Eu ando pelo mundo
E os automóveis correm para quê?
As crianças correm para onde?
Transito entre dois lados de um lado
Eu gosto de opostos
Exponho o meu modo, me mostro
Eu canto para quem?

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
(quem é ela, quem é ela?)
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle

Eu ando pelo mundo e meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço?
Meu amor, cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
(quem é ela, quem é ela?)
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle

(Adriana Calcanhoto)

quinta-feira, 19 de abril de 2007

O silêncio que anula

Agora que focalizei minha atenção nessa dificuldade de expansão mental e verbal que eu mesma criei, não consigo ignorar a suposta ameaça que esse imaginário bloqueio significa para mim e para o meu mundo. Queria ter a mente clara e objetiva ao ponto de conseguir racionalizar os sentimentos para depois exteriorizá-los em palavras, gestos e atos. Essa é a velha temática de sempre (o problema com as palavras), porém, agora vista de um novo prisma: o problema com as palavras e com a organização interior. É realmente difícil encontrar dentro de mim, dentro da minha cabeça os pontos a serem acessados, dissecados e depois expressos. Me dói e me cansa muito fazer essa busca pelo abstrato que invariavelmente influencia no concreto. Queria poder fechar meus olhos sobre uma folha de papel e uma caneta e, ao abri-los, me deparar com todos os meus demônios ali poetizados e desnudados. Seria como num desenho cego: inconsciente e revelador.

Flor Poliana

(através de você eu me vejo)

Entre um nariz quebrado e um sorriso falso
Entre piedade e pólvora
Entre brigar e fugir de cena
Entre assassinato e diplomacia
Entre agressão e esquecimento
Entre brutal e verdadeiramente bem comportada
Entre gritar e segurar as rédias
Entre andar nas pontas dos pés e perambular

O que estou fazendo com todo este fogo?
(gostaria de bater em você, mas nunca bateria)
Por que você continua comigo neste espaço vermelho?
(gostaria de esbofetear você, mas nunca esbofetearia)

Entre violência e estar silenciosamente incendiando de raiva
Entre meu punho e minha flor Poliana
Entre fuder você na sua cara e estar tudo bem
Entre guerra e negação

Entre atirar vasos e chorar secretamente
Entre soltar canhões e sempre estar deprimida
Entre os hematomas e discordar nobremente
Entre explodir e entrar em ebulição

O que estou fazendo com toda esta combustão?
(gostaria de machucar você, mas nunca machucaria)
Eu intimido você nesse lugar?
(gostaria de matar você, mas nunca mataria)

Entre violência e estar silenciosamente incendiando de raiva
Entre meu punho e minha flor Poliana
Entre fuder você na sua cara e estar tudo bem
Entre guerra e negação

O que estou fazendo com todo este fogo?
Você consegue me entender neste lugar?

(Pollyanna Flower - Alanis Morissette)

sexta-feira, 13 de abril de 2007

Texto escrito em 08/04/2007

São 02:45 da manhã. Já é Páscoa. Seria muito previsível escrever algo sobre esta data e o que ela significa ou deveria significar para as pessoas ou para mim. Mas, como você mesmo já percebeu, sou uma pessoa previsível. Desenhei um coelho da páscoa na minha agenda, que também uso como diário, e é onde rascunho todos estes pensamentos. Meu coelho ficou super engraçado e weird, como eu mesma defini. Ficou com uns pés grandes e com uma barriga que mais parece uma bola de futebol americano. Nunca vou entender a associação criada entre Jesus, coelhos e chocolates. Três coisas tão distintas e distantes entre si, cada uma com a sua importância no seu mundo. Seriam como nós dois? Temo que você conclua que sim.

Pensei ter ouvido alguém fazendo sexo no quarto ao lado. Digo "alguém", porque não é sempre que duas pessoas fazem sexo juntas. Às vezes, apenas uma delas faz, enquanto a outra se concentra em terminar logo, ou em nem começar. Mas me enganei. Não tem ninguém fazendo sexo, não. Pelo menos não naquele quarto. Porém, em outros lugares, sim. Nesse exato momento, enquanto escrevo essas coisas, alguém está soltando gemidos de prazer. E agora, nesse exato outro momento alguém goza, e um outro alguém suspira, e um outro alguém sussurra mentiras e promessas friamente elaboradas, e um outro alguém toma coragem e abre o coração. E é sempre assim. Bilhões de vidas simultâneas, cada uma com seu personagem principal. Não é à toa que exista tanto egoísmo, egocentrismo e tudo aquilo que envolve o ego humano.

Esse egoísmo também acontece com o passado das pessoas. Meu egoísmo me faz ter ciúmes, inveja e raiva das suas experiências com outras mulheres. Isso é insano, eu sei, mas não consigo evitar. Me afeta saber que você já tocou em outras do jeito que me toca, que você já sentiu e ainda sente coisas muito mais fortes do que as que você sente ou sentirá por mim. Me enraivece saber que sempre haverá algo que alguma outra fez melhor ou foi melhor pra você de um jeito que jamais serei ou farei. Mas o que realmente me dói é ter consciência de que esses sentimentos insanos são apenas mais uma prova da minha mentalidade fraca e do meu egoísmo agudo. Isso sim me enraivece muito.

Querer para si a posição mais alta possível na vida de alguém é ser muito presunçoso. A vontade e necessidade de ser a coisa mais importante, significativa, desejada, necessária, essencial e indiscutível na existência de alguém de quem se gosta ou se pretende gostar muito, é algo estranho, pretencioso e frustrante. Mas acima de tudo torturante. Não entendo como posso ser assim. Será que com o tempo esse tipo de imaturidade passa? Espero que sim. Mas, se tem uma coisa que realmente jamais entenderei é a associação criada entre Jesus, coelhos e chocolates.

Joni's moment

Música de Joni Mitchell... River

Rio

O Natal está chegando
Eles estão cortando as árvores,
Enfeitando-as com renas
E cantando canções de alegria e paz
Oh, gostaria de ter um rio
Onde eu pudesse patinar para longe

Mas, não neva aqui
Está tudo muito verde
Estou fazendo muito dinheiro
Então, estou parando com esta cena louca
Gostaria de ter um rio
Onde eu pudesse patinar para longe

Gostaria de ter um rio muito extenso
Eu iria ensinar meus pés a voar
Gostaria de ter um rio
Onde eu pudesse patinar para longe
Fiz meu amor chorar

Ele tentou me ajudar muito
Ele me facilitou tudo, sabe,
E me amou de forma tão ousada,
Fazendo tremer meus joelhos
Oh, gostaria de ter um rio
Onde eu pudesse patinar para longe

Sou tão difícil de lidar
Sou egoísta e estou triste
Agora, fugi e perdi o melhor amor
Que jamais tive
Oh, gostaria de ter um rio
Onde eu pudesse patinar para longe

Gostaria de ter um rio muito extenso
Eu iria ensinar meus pés a voar
Gostaria de ter um rio
Onde eu pudesse patinar para longe
Fiz meu amor dizer adeus

O Natal está chegando
Eles estão cortando as árvores,
Enfeitando-as com renas
E cantando canções de alegria e paz
Oh, gostaria de ter um rio
Onde eu pudesse patinar para longe

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Bad taste

Não consigo não me desconcentrar. Não consigo não me deixar abalar pelo externo. Pelo maldito externo. Quem vocês pensam que são para tentar me definir e me enquadrar em uma categoria previsível e conveniente para a mentalidade padronizada de vocês, quando na realidade vocês estão mais perdidos do que eu? Não quero ser totalizada por pessoas que não sabem respeitar o diferente, que são tão pequenas e mesquinhas que definem o diferente como uma doença, anormalidade e até mesmo aberração. Vocês não sabem nada sobre mim, sobre minha pessoa, sobre o que se passa na minha cabeça, sobre minhas conjecturas e opiniões. E na realidade, vocês nem querem saber, pois isso iria contra o mundinho heterosexual-católico-apostólico-romano de vocês. Estou tão cansada de ser ridicularizada pela maioria. Vocês não estão nem um pouco preocupados se estão magoando ou não, se estão sendo injustos ou não, se estão respeitando os mundos externos e alheios aos seus. Isso, sim, é doença. A doença da mente. E do coração.
Nessas horas me arrependo de ser tão boa para as pessoas, de ser compreensiva, de tentar ajudar ao máximo. Eu odeio tudo isso.

domingo, 8 de abril de 2007

A convivência entre as pessoas é algo estranho. Ela faz você querer estar com alguém, faz você lembrar desse alguém com coisas simples e às vezes complexas. Uma lua no céu, um jogo no computador, uma música de um cd, um cheiro na pele, uma árvore na estrada, uma placa de vende-se em um casarão. A convivência se desenrola, exatamente como você sempre quis. Então, com o passar do tempo você sente uma necessidade indesprezível de se manter distante desse alguém. A distância acontece, então você sente uma saudade que parece destruir toda essa co-existência, a sua e da pessoa ausente. Só que essa destruição nem sempre acontece. Algumas vezes - a maioria, eu diria - essa saudade é forjada e sabotada por você mesmo. E quando você toma consciência disso, você também descobri que algumas das coisas - a maioria, eu diria - que você sente falta na pessoa ausente, foram criadas e cultivadas por você através da imagem que você projetou dessa pessoa em sua cabeça. E em seu coração. É por isso que costumo dizer que às vezes amo com a cabeça. A saudade/ausência nem sempre pode ser aceita como algo natural. Pena que descobri isto só agora, depois de todo aquele tempo e energia gastos em tornar você novamente presente na minha vida de uma maneira que você nunca foi.