segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Processo de auto-privação

Uma pequena discórdia, uma lembrança triste, um pensamento aterrador, um flagrante óbvio e já esperado: motivos ideais para uma mudança brusca de humor e direções. Ser racional neste momento, com todas estas certezas pulsando na cabeça - e nas veias - é um exercício dificílimo.

O que fazer? O que esperar? Como agir? O que sentir? O que dizer?

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

O medo da escrita

Importuno momento onde a criatividade é intimidada pelo medo do não criativo, do não original, do não interessante. Escrever rodeado destes receios limita o escritor a imprimir o já escrito, ou a simplesmente não escrever. Estas duas possibilidades são tão ameaçadoras quanto o medo da escrita em si. A primeira é uma ameaça ao novo, ao inédito. A segunda ameaça o expressar, o dizer. Por isso, só escrevo quando não tenho medo.

domingo, 23 de setembro de 2007

Tristeza

Olho para o pequeno vaso com as flores que você me deu. Elas estão todas morrendo. Todas. Eram vermelhas. Agora, estão numa cor que não sei definir direito. Roxo, parece. Não sei... O que sei é que junto com as flores, algo dentro de mim está morrendo também. E você nem percebe. Talvez porque você esteja ocupado demais tentando mantê-las perto de você, no "postinho" que você reservou para cada uma delas em seu coração. Amigas e parceiras, amigas e parceiras, amigas e parceiras, amigas e parceiras, amigas e parceiras. Eu, o que sou?

Me sinto tão triste, tão sozinha. Até chorar dói. E você nem vê. Você acha que me entende e diz que está tentando me ajudar, mas continua a viver sua vida do jeito que sempre viveu.

Não me importo em escrever estas coisas aqui, porque sei que você não irá ler nada disso. Você não se importa mais com o que escrevo.

Não sei até onte vou aguentar. Não sei até onde você vai aguentar.

Eu só queria poder ir embora da sua vida sem terminar de morrer por dentro. E mesmo indo embora, você continuaria sendo o único a ocupar meu coração.

Aula de "Relações Humanas"

- Você deixa eu abrir este cadeado? Podemos abrir juntas. - Disse ela, com os olhos azuis brilhando de excitação diante do suposto desafio.

- Não vejo razão para abrir este "cadeado". É a minha vida, a minha história. Não existe motivo para compartilhá-la como um conto qualquer. Na verdade, este "cadeado" nem existe. Vocês é que o inventaram para justificar a dificuldade de comunicação entre as pessoas. Se não existesse algo que criasse problemas no (in)consciente das pessoas, o que seria da psicologia, psiquiatria e similares?

- Então, Sheyla, você está querendo dizer que inventamos os problemas na cabeça das pessoas para manter nossos empregos?

- Oh, não. Eu não seria tão injusta assim. O que quero dizer é que nesse caso - no meu caso - não existe problema. Não esse problema. Eu tenho vários problemas emocionais, claro, como todo e qualquer ser humano. Mas essa introversão, não é um problema. Sou introvertida por escolha.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Indo-se

O que sei é que tua ausência já está declarada inconscientemente dentro de mim. Você morreu pela primeira vez trocando de cidade. E agora seu corpo já não consegue mais segurar seu espírito. Ou será ao contrário? Já não sei.

Disseram que talvez você se vá hoje. Parece que a reação biológica vai ser forte demais para seu organismo já debilitado suportar. Um de seus rins não funciona mais. Disseram que daqui a pouco o outro também vai parar de funcionar. O espiritismo diz que quanto mais sofrida é a morte de alguém numa vida, mais difícil foi esta pessoa na vida anterior. Você não acredita nisso. E eu não sei mais no que acreditar. Essa seria a única explicação para tanto sofrimento, mas você nunca me pareceu uma pessoa difícil. Então, não sei porque você está sofrendo tanto.

O tempo é tão irônico. Enquanto vivo os momentos mais felizes da minha vida com meu namorado, você vive o últimos momentos da sua. E sei que eles não estão sendo felizes. Daria tudo para que eles estivessem sendo. Seria contraditório demais se eles estivessem sendo. Alegria e felicidade até no fim. Nunca vi alguém morrer assim.

Você nunca irá saber que escrevi estas coisas, mesmo que você dure mais 10 anos. Somos fundamentados em bases totalmente diferentes. Você é de 25. Eu sou de 85. Você não tem mais ninguém da sua época. Estão todos mortos. Eu nunca perdi ninguém da minha época. Talvez você seja o primeiro. Deve ser muito triste ter sua vida apenas como lembrança, sem amigos, pais, irmãos, irmãs, parentes, ter sua infância inteira apenas em sua memória, olhar para sua cidade natal e não reconhecer ninguém, nenhum rosto amigo ou ao menos conhecido. Todos mortos. Não consigo concretizar isto. É triste demais.

Me aconselharam a te procurar, pois tenho que participar desta sua última transição. Uso minha falta de dinheiro como desculpa para não ir ao seu encontro. Sou covarde, sempre fui. Sempre chorei sua doença sozinha e nos cantos mais quietos possíveis, fazendo de tudo para ningúem me escutar. Estou apavorada diante de tudo isto. Me pergunto como você está se sentindo, mas não em termos fisiológicos, pois sei que fisicamente a dor é imensa. Queria saber como está seu coração. Você parece tão calmo e sereno ao telefone, sempre dizendo que está bem e até fazendo piada com a sua situação. Sempre querendo acalmar a todos. Este deveria ser o verdadeiro sentido da palavra patriarca.

Tenho tanto a dizer... Mas minha covardia me impede de lidar com os sentimentos que você me causa. Te peço perdão pela neta aparentemente desnaturada que sempre fui. Sempre pensei em você e ainda penso. Te salvei uma vez através da minha pureza e inocência. Mas não sou mais pura nem inocente, então, não ouso nem tentar.

Obrigada por fazer parte da minha existência.

Sangue

Essa vontade de matar o "inimigo"
Planejo mortes sem razões sensatas
Meu ódio, inveja e ciúmes são infundados
Ou talvez não.
Talvez, eu realmente tenha que me sentir assim,
Com esse sangue nos olhos,
Desejando a carnificina de tudo aquilo que me faz mal
Preciso de equilíbrio
Preciso aprender a matar as pessoas por dentro
E não de forma externa,
Pois a morte interior é muito mais densa, precisa e irreversível
Eu almejo-a a todos
Quase todos

(05/08/2007, domingo)

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Um ser humano como o meu

Quando tento entender o que sou nesse mundo físico e terrestre, nunca encontro uma resposta. Alguém me classificou como ser humana. O que significa humana? O que significa ser? De onde vem a palavra humana? Se existem, de onde vem seu prefixo e sufixo? Essa é uma palavra de origem grega? Romana? Latina? Hebraica? Não sei. Não sei de nada.

Dizem que sou a melhor criação de Deus, que sou sua imagem e semelhança, e por esse motivo, sou tão bela quanto ele. Me disseram isso olhando nos meus olhos, que se encheram de lágrimas por meu coração sentir a necessidade de que aquilo fosse verdade. Tentei acreditar. Tentei mesmo. Se sou a imagem e semelhança de Deus, por que sou tão imperfeita? Não acredito em mim como pessoa. Não acredito que dentro de mim de fato exista toda a essência bondosa que convencionaram para a palavra humana. Me sinto má, me vejo má. E vejo maldade em tudo, em todos.

Acredito que não sou um ser humano. Acredito que tenho um ser humano traçado para ser. Quando penso nisso, me sinto fora de mim, como se essa parte desconhecida que está dentro mim tentasse vir à tona, tentasse se sobrepor a todo esse ser humano que tento ser. E às vezes ela se sobrepõem. Me sinto tonta e fora de órbita quando isso acontece, como se por um segundo eu tivesse a consciência real de que sou apenas um brinquedo auto-programado nas mãos de Deus. E é assim que me sinto.

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Esses são os pensamentos

These r the thoughts, música de Alanis Morissette

Esses são os pensamentos que passam pela minha cabeça
No meu quintal, em uma tarde de domingo,
Quando eu tenho a casa só pra mim,
E nao estou gastando toda minha energia brigando com meu namorado

É ele a pessoa com quem vou casar?
Por que é tão difícil ser objetiva sobre eu mesma?
Por que me sinto tão sozinha?
Esperam mesmo que eu viva nessa cidade louca?
Será que a tradição de negar a vida, que é continuada cegamente,
Regurgitada e induzida pelo medo, pode ser vencida?

Para onde vai o dinheiro que mando
Para aqueles que estão em necessidade?
Se nós temos tanto, por que algumas pessoas não têm nada ainda?
Por que me sinto fora de mim quando acordo de manhã?
Por que você diz ser espiritual, se você trata pessoas como merda?

Como você pode dizer que está perto de Deus
Se você fala pelas minhas costas,
Como se eu não fosse parte de você?
Por que falo que estou bem quando é óbvio que não estou?
Por que é tão difícil te dizer o que quero?
Por que você não pode simplesmente ler minha mente?

Por que tenho medo de que quanto mais quieta eu ficar menos você vai me ouvir?
Por que me importo se você realmente gosta ou não de mim?
Por que é tão difícil pra mim ficar brava?
Por que é tão trabalhoso ficar consciente e tão fácil se deixar levar,
E não o contrário?

Será que voltarei a me mudar para o Canadá?
Posso estar com um amante com quem eu sou uma aprendiz e uma mestra?
Por que sou encorajada a me calar quando chego perto de casa?
Por que não consigo viver o momento?

terça-feira, 12 de junho de 2007

Minha vida depois do pensar

Existem momentos em que cada movimento é definitivo e irreversível. Esses momentos são o começo de novas eras em nossas vidas. Sinto que estou passando por um dos decisivos estágios que definirá todo o resto da minha vida a partir dele. Esse talvez seja o principal entre todos. São tantas dúvidas e incertezas, tanta multiplicidade de resultados insatisfatórios...

Transito entre ideais há tempos traçados e falta de novas perspectivas, pensamentos há tempos mentalizados e contradição de opiniões. Sempre almejei o anarquismo. Agora que o tenho bem aqui, me debato por não conseguir me tirar dele. Ou seria tirar ele de mim? Eu não sei...

Minha cabeça não pára nunca. Me cansa esse exercício do pensar e não encontrar nada além de escombros e estátuas. As coisas não são mais como antes, não tenho mais a energia e disposição que sempre tive, não encontro mais as razões que sempre justificaram meus atos, não sinto mais o prazer que sempre senti em defender minhas causas e dissecar meus pensamentos. Agora, tudo é passageiro e insignificante. Tanto faz se vai chover hoje, se vou perder meu emprego ou se vou morrer amanhã. Não me sinto mais parte de nada disso. Sinto que estou além. Só não sei onde estou. Isso pode soar muito adolescente e imaturo. Eu não sei, não sei mais definir as coisas. O que sei é que estou cansada de todos esses movimentos de altos e baixos, de caminhar sem querer ir para lugar algum, de nunca conquistar algo de verdade, de sempre depender de coisas e pessoas alheias à minha situação, de ter que levar minha vida com o que tenho.

Quero que esse momento acabe logo. Não suporto mais acordar e dar de cara com a minha vida.

quarta-feira, 25 de abril de 2007

Mais do que tédio

Não consigo manter minha mente focada em nada. Estou dispersa, desconectada e descontente com tudo. Muito pouco na minha vida está me satisfazendo completamente, nem mesmo esse blog estúpido onde sempre tento me expor inutilmente. Essa hora que não passa, esse final de semana que não chega, e que quando chega acaba rápido, esse trabalho mecânico e mal remunerado, esse curso entediante, essa falta de vontade em descobrir e investigar o novo, essa apatia e indiferença na relação com as pessoas ao meu redor, esse cansaço físico e mental que nunca acaba, essa tontura que parece que sempre me levará ao desmaio. Tudo isso me desanima e me faz retornar para questões que pensei já ter resolvido.

Sempre quis ter a oportunidade de me relacionar com o belo, com o artístico, com o erudito e o intelectual. Essa oportunidade está bem aqui. E o que eu faço? Ignoro-a. Eu nunca vou me entender.

Me sinto tão pequena e mesquinha. Eu poderia ser plena, poderia estar aprendendo com esse momento, poderia estar fluindo. E o que eu faço? Me afundo cada vez mais em minha vontade de desertar de mim mesma. E é o que estou fazendo, dia após dia.

Gostaria de poder não respirar para nunca me acordar.

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Esquadros

Eu ando pelo mundo prestando atenção
Em cores que não sei o nome
Cores de Almodóvar
Cores de Frida Kahlo, cores
Passeio pelo escuro
Eu presto muita atenção no que meu irmão ouve
E como uma segunda pele, um calo, uma casca,
Uma cápsula protetora
Eu quero chegar antes
Pra sinalizar o estar de cada coisa,
Filtrar seus graus
Eu ando pelo mundo divertindo gente
Chorando ao telefone
E vendo doer a fome nos meninos que têm fome

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
(quem é ela, quem é ela?)
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle

Eu ando pelo mundo
E os automóveis correm para quê?
As crianças correm para onde?
Transito entre dois lados de um lado
Eu gosto de opostos
Exponho o meu modo, me mostro
Eu canto para quem?

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
(quem é ela, quem é ela?)
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle

Eu ando pelo mundo e meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço?
Meu amor, cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
(quem é ela, quem é ela?)
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle

(Adriana Calcanhoto)

quinta-feira, 19 de abril de 2007

O silêncio que anula

Agora que focalizei minha atenção nessa dificuldade de expansão mental e verbal que eu mesma criei, não consigo ignorar a suposta ameaça que esse imaginário bloqueio significa para mim e para o meu mundo. Queria ter a mente clara e objetiva ao ponto de conseguir racionalizar os sentimentos para depois exteriorizá-los em palavras, gestos e atos. Essa é a velha temática de sempre (o problema com as palavras), porém, agora vista de um novo prisma: o problema com as palavras e com a organização interior. É realmente difícil encontrar dentro de mim, dentro da minha cabeça os pontos a serem acessados, dissecados e depois expressos. Me dói e me cansa muito fazer essa busca pelo abstrato que invariavelmente influencia no concreto. Queria poder fechar meus olhos sobre uma folha de papel e uma caneta e, ao abri-los, me deparar com todos os meus demônios ali poetizados e desnudados. Seria como num desenho cego: inconsciente e revelador.

Flor Poliana

(através de você eu me vejo)

Entre um nariz quebrado e um sorriso falso
Entre piedade e pólvora
Entre brigar e fugir de cena
Entre assassinato e diplomacia
Entre agressão e esquecimento
Entre brutal e verdadeiramente bem comportada
Entre gritar e segurar as rédias
Entre andar nas pontas dos pés e perambular

O que estou fazendo com todo este fogo?
(gostaria de bater em você, mas nunca bateria)
Por que você continua comigo neste espaço vermelho?
(gostaria de esbofetear você, mas nunca esbofetearia)

Entre violência e estar silenciosamente incendiando de raiva
Entre meu punho e minha flor Poliana
Entre fuder você na sua cara e estar tudo bem
Entre guerra e negação

Entre atirar vasos e chorar secretamente
Entre soltar canhões e sempre estar deprimida
Entre os hematomas e discordar nobremente
Entre explodir e entrar em ebulição

O que estou fazendo com toda esta combustão?
(gostaria de machucar você, mas nunca machucaria)
Eu intimido você nesse lugar?
(gostaria de matar você, mas nunca mataria)

Entre violência e estar silenciosamente incendiando de raiva
Entre meu punho e minha flor Poliana
Entre fuder você na sua cara e estar tudo bem
Entre guerra e negação

O que estou fazendo com todo este fogo?
Você consegue me entender neste lugar?

(Pollyanna Flower - Alanis Morissette)

sexta-feira, 13 de abril de 2007

Texto escrito em 08/04/2007

São 02:45 da manhã. Já é Páscoa. Seria muito previsível escrever algo sobre esta data e o que ela significa ou deveria significar para as pessoas ou para mim. Mas, como você mesmo já percebeu, sou uma pessoa previsível. Desenhei um coelho da páscoa na minha agenda, que também uso como diário, e é onde rascunho todos estes pensamentos. Meu coelho ficou super engraçado e weird, como eu mesma defini. Ficou com uns pés grandes e com uma barriga que mais parece uma bola de futebol americano. Nunca vou entender a associação criada entre Jesus, coelhos e chocolates. Três coisas tão distintas e distantes entre si, cada uma com a sua importância no seu mundo. Seriam como nós dois? Temo que você conclua que sim.

Pensei ter ouvido alguém fazendo sexo no quarto ao lado. Digo "alguém", porque não é sempre que duas pessoas fazem sexo juntas. Às vezes, apenas uma delas faz, enquanto a outra se concentra em terminar logo, ou em nem começar. Mas me enganei. Não tem ninguém fazendo sexo, não. Pelo menos não naquele quarto. Porém, em outros lugares, sim. Nesse exato momento, enquanto escrevo essas coisas, alguém está soltando gemidos de prazer. E agora, nesse exato outro momento alguém goza, e um outro alguém suspira, e um outro alguém sussurra mentiras e promessas friamente elaboradas, e um outro alguém toma coragem e abre o coração. E é sempre assim. Bilhões de vidas simultâneas, cada uma com seu personagem principal. Não é à toa que exista tanto egoísmo, egocentrismo e tudo aquilo que envolve o ego humano.

Esse egoísmo também acontece com o passado das pessoas. Meu egoísmo me faz ter ciúmes, inveja e raiva das suas experiências com outras mulheres. Isso é insano, eu sei, mas não consigo evitar. Me afeta saber que você já tocou em outras do jeito que me toca, que você já sentiu e ainda sente coisas muito mais fortes do que as que você sente ou sentirá por mim. Me enraivece saber que sempre haverá algo que alguma outra fez melhor ou foi melhor pra você de um jeito que jamais serei ou farei. Mas o que realmente me dói é ter consciência de que esses sentimentos insanos são apenas mais uma prova da minha mentalidade fraca e do meu egoísmo agudo. Isso sim me enraivece muito.

Querer para si a posição mais alta possível na vida de alguém é ser muito presunçoso. A vontade e necessidade de ser a coisa mais importante, significativa, desejada, necessária, essencial e indiscutível na existência de alguém de quem se gosta ou se pretende gostar muito, é algo estranho, pretencioso e frustrante. Mas acima de tudo torturante. Não entendo como posso ser assim. Será que com o tempo esse tipo de imaturidade passa? Espero que sim. Mas, se tem uma coisa que realmente jamais entenderei é a associação criada entre Jesus, coelhos e chocolates.

Joni's moment

Música de Joni Mitchell... River

Rio

O Natal está chegando
Eles estão cortando as árvores,
Enfeitando-as com renas
E cantando canções de alegria e paz
Oh, gostaria de ter um rio
Onde eu pudesse patinar para longe

Mas, não neva aqui
Está tudo muito verde
Estou fazendo muito dinheiro
Então, estou parando com esta cena louca
Gostaria de ter um rio
Onde eu pudesse patinar para longe

Gostaria de ter um rio muito extenso
Eu iria ensinar meus pés a voar
Gostaria de ter um rio
Onde eu pudesse patinar para longe
Fiz meu amor chorar

Ele tentou me ajudar muito
Ele me facilitou tudo, sabe,
E me amou de forma tão ousada,
Fazendo tremer meus joelhos
Oh, gostaria de ter um rio
Onde eu pudesse patinar para longe

Sou tão difícil de lidar
Sou egoísta e estou triste
Agora, fugi e perdi o melhor amor
Que jamais tive
Oh, gostaria de ter um rio
Onde eu pudesse patinar para longe

Gostaria de ter um rio muito extenso
Eu iria ensinar meus pés a voar
Gostaria de ter um rio
Onde eu pudesse patinar para longe
Fiz meu amor dizer adeus

O Natal está chegando
Eles estão cortando as árvores,
Enfeitando-as com renas
E cantando canções de alegria e paz
Oh, gostaria de ter um rio
Onde eu pudesse patinar para longe

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Bad taste

Não consigo não me desconcentrar. Não consigo não me deixar abalar pelo externo. Pelo maldito externo. Quem vocês pensam que são para tentar me definir e me enquadrar em uma categoria previsível e conveniente para a mentalidade padronizada de vocês, quando na realidade vocês estão mais perdidos do que eu? Não quero ser totalizada por pessoas que não sabem respeitar o diferente, que são tão pequenas e mesquinhas que definem o diferente como uma doença, anormalidade e até mesmo aberração. Vocês não sabem nada sobre mim, sobre minha pessoa, sobre o que se passa na minha cabeça, sobre minhas conjecturas e opiniões. E na realidade, vocês nem querem saber, pois isso iria contra o mundinho heterosexual-católico-apostólico-romano de vocês. Estou tão cansada de ser ridicularizada pela maioria. Vocês não estão nem um pouco preocupados se estão magoando ou não, se estão sendo injustos ou não, se estão respeitando os mundos externos e alheios aos seus. Isso, sim, é doença. A doença da mente. E do coração.
Nessas horas me arrependo de ser tão boa para as pessoas, de ser compreensiva, de tentar ajudar ao máximo. Eu odeio tudo isso.

domingo, 8 de abril de 2007

A convivência entre as pessoas é algo estranho. Ela faz você querer estar com alguém, faz você lembrar desse alguém com coisas simples e às vezes complexas. Uma lua no céu, um jogo no computador, uma música de um cd, um cheiro na pele, uma árvore na estrada, uma placa de vende-se em um casarão. A convivência se desenrola, exatamente como você sempre quis. Então, com o passar do tempo você sente uma necessidade indesprezível de se manter distante desse alguém. A distância acontece, então você sente uma saudade que parece destruir toda essa co-existência, a sua e da pessoa ausente. Só que essa destruição nem sempre acontece. Algumas vezes - a maioria, eu diria - essa saudade é forjada e sabotada por você mesmo. E quando você toma consciência disso, você também descobri que algumas das coisas - a maioria, eu diria - que você sente falta na pessoa ausente, foram criadas e cultivadas por você através da imagem que você projetou dessa pessoa em sua cabeça. E em seu coração. É por isso que costumo dizer que às vezes amo com a cabeça. A saudade/ausência nem sempre pode ser aceita como algo natural. Pena que descobri isto só agora, depois de todo aquele tempo e energia gastos em tornar você novamente presente na minha vida de uma maneira que você nunca foi.

terça-feira, 27 de março de 2007

Essa dificuldade em me expressar, em me definir, em conseguir me enxergar entre todos estes escombros, é uma coisa mais do que comum na minha vida. Me agonia não conseguir exteriorizar o que penso e o que sinto. Às vezes consigo traduzir alguma coisa, mas na maioria das vezes essa é uma tarefa impossível. Como consigo ser tão racional e ao mesmo tempo tão displicente e apática? Agora, nesse exato momento em que escrevo tudo isto, não consigo de fato expressar tudo que estou pensando. Essa é uma das dificuldades que me faz querer ficar longe das pessoas. Nunca consigo dizer para elas o que penso. Então você começa a conversar comigo, e mesmo não confessando, acha que às vezes não consigo acompanhar sua linha de raciocínio por eu estar quieta ou apenas concordando com suas falas. Você se engana. Eu compreendo tudo o que você me fala, e sempre ou quase sempre tenho minhas opiniões formadas sobre os assuntos que você disseca comigo. O problema é saber e conseguir expor essas opiniões. Como eu não sei e não consigo expor, fico quieta, apenas admirando (e às vezes invejando) tua eloquência. Não conseguir falar me entristece e me deprime.

domingo, 25 de março de 2007

Início de segunda e de todos os outros dias

01:20 da manhã. Meu torrent baixando, Rush tocando no meu subwoofer novo, milhões de abas abertas no Firefox, bits e mais bits de música e informação. E mesmo com tudo isso, a única coisa que consigo pensar é em você. Já sinto sua falta, como se as quase 48 horas que passamos juntos não tivessem sido o suficiente para eu desfrutar de você. E não foram.
Te quero cada vez mais.

sexta-feira, 23 de março de 2007

um exagero feliz

Hoje estou tão feliz. Feliz por ter conseguido entender que minha existência não é tão essencial para as pessoas quanto é para mim; feliz por ter descoberto que nada nem ninguém nesse mundo será/é/jamais será tão sincero e honesto comigo quanto sou comigo mesma; feliz por finalmente conseguir entender que minha vida inteira depende apenas de mim e de minhas decisões, e que não importa o que façam para mim, serei/sou a única responsável por tudo que acontece comigo; feliz por ter percebido que não sou nem um pouco singular, única e especial quanto tento ostentar, e que jamais serei singular, única e especial como tento ostentar; feliz por ter minha vida baseada em regras que nunca compri e que sei que nunca cumprirei, regras estas que são fundamentais para minha estabilidade como ser humano; feliz por parar de tentar me entender, pelo menos até terminar esta postagem; feliz por conseguir enxergar o tamanho do estrago que faço comigo mesma cada vez que me forço a ser o que não sou, ou a estar com que não quero, ou a fazer o que não gosto, ou a dizer o que não penso; feliz por saber que tenho uma capacidade incrível de distorcer os fatos, e que esta mesma capacidade me faz ver as coisas como elas são de fato, ou seja, distorcidas; feliz por ser uma das poucas pessoas que conheço que se sente feliz por ser negativa e introspectiva; feliz por nunca estar satisfeita com nada; feliz por saber que enquanto eu viver, jamais conseguirei me livrar de mim mesma; e acima de tudo, feliz por fingir estar feliz por ter percebido tudo isto.

segunda-feira, 19 de março de 2007

Esse dom que você tem de me fazer analisar uma situação pelo lado mais sensato e objetivo é algo novo e inédito para mim. Eu digo "dom", porque é praticamente impossível mudar minha opinião sobre um determinado assunto. E você consegue isso, mesmo com toda a minha teimosia e intransigência. Você me oferece um tipo de complemento que nunca desejei ter. Isso me assusta um pouco. Mas também me fascina.

Você diz que não se sente pronto para definir tudo isto. Eu entendo. Também não sei definir ainda. O que sei é que dormir e acordar do teu lado tem sido uma experiência única. Ouvir você falar sobre a sua vida, sobre tudo que contribuiu para que você se tornasse o que você é, me faz gostar de você cada vez mais.

Essa viagem, esse final de semana, essa madrugada tão intensa, tudo isto serviu para me encantar ainda mais.

Eu também te adoro.

terça-feira, 13 de março de 2007

Curvada a você

(Origem do nome deste blog e de todo o resto que se passa aqui dentro)

Você está inseguro e não está pronto, então isso significa que te quero.
Você está inutilizável e desinteressado, e para você procuro por conforto.
Por um milhão de vezes e um milhão de maneiras, tentarei mudar você.
Por um milhão de meses e um milhão de dias, tentarei te convencer.
Esperei por você e me ajustei por você, e estou acabada.
Me anulei por você e me possibilitei para você, e estou acabada.
Você está jovem demais ou velho demais, ou simplesmente não está inclinado.
Você está adormecido ou está negando ser o que minha intuição vê em você.
Por diversas vezes e diversas maneiras, tentarei espremer amor de você.
Por diversas horas e diversas maneiras, festejarei com os restos jogados por você.
Me curvei a você e me privei por você, e estou acabada.
Me deprimi por você e me contorci por você, e estou acabada.
Me reprimi por você e me comprometi por você, e estou acabada.
Me silenciei por você e me sacrifiquei por você, e estou acabada.
Não irá demorar muito até que eu esteja recuperada.
Não irá levar muito tempo, e estarei na estrada novamente.
Não será fácil nos separar.
Estou no fim do estágio de auto-privação.
Você está com medo de toda mulher, medo de seus próprios processos internos.
Você se intimida com a idéia de viver sob o mesmo teto que eu, Deus e todas as coisas.
Por um milhão de vezes e um milhão de maneiras, tentei mudar para combinar com você.
Por diversas vezes e por todos dias, tentei te esquecer.

(Alanis Morissette - Bent 4 U)

segunda-feira, 12 de março de 2007

Sentir

Te tocar é uma experiência nova para mim. Nunca encontrei alguém que correspondesse tão bem aos meus carinhos, ao meu toque, ao meu corpo. Você diz que minha espontaneidade te surpreende. Eu digo que sua sensibilidade me cativa e me atrai cada vez mais. O brilho que vejo nos seus olhos cada vez que nos tocamos, os espasmos de prazer que você tem sempre que é tocado em um lugar sensível e inesperado, os gemidos que você emite quando toco seu corpo com minha boca ou com minha língua, sua respiração ofegante, o jeito que seus cabelos caem sobre mim, os suspiros que você solta quando encaixo meu corpo ao seu... tudo isso me atrai e me envolve muito. Essa mistura de sentidos é tão nova para mim quanto para você.

"Me diz o que posso fazer para retribuir todo esse gesto de amor..."

Você já está fazendo...
Mais do que ninguém nunca desejou fazer.
Você me faz muito bem.

quinta-feira, 8 de março de 2007

Não e pronto

Não sentir-se...
Não me sinto disposta a ouvir tuas mentiras
Não me sinto tentada a te acolher nos meus braços e na minha vida
Não me sinto cativada por tuas histórias e olhares complacentes
Não me sinto à vontade em estar perto de ti

Não ver-se...
Não me vejo te amando loucamente
Não me vejo sendo respeitada e valorizada por tudo que sou
Não me vejo sendo honesta comigo mesma
Não me vejo sendo tua âncora

Não querer-se...
Não me quero envolvida em teu charme fugaz
Não me quero sonhando com o inexistente
Não me quero esperando por teu reconhecimento
Não me quero implorando por tua atenção

Não fazer-se...
Não me faço de desentendida
Não me faço de vítima
Não me faço de difícil
Não me faço de "me ame se fores capaz"

quinta-feira, 1 de março de 2007

Lamento por mim mesma

Por escutar minhas dúvidas tão seletivamente.
Por continuar em meu torpor relutantemente.
Por ajudar você e a mim mesma sem ao menos ponderar.
Por me maltratar e me sobrecarregar de trabalho.

Para quem devo a maior desculpa?
Ninguém é tão cruel quanto tenho sido comigo mesma.

Por deixar você decidir se eu era de fato desejável.
Por meu amor próprio estar tão confusamente condicional.
Por negar a mim mesma a chance de nos fazer compatíveis.
Por tentar encaixar um retângulo num círculo.

Para quem devo a maior desculpa?
Ninguém é tão cruel quanto tenho sido comigo mesma.

Lamento por mim mesma,
Minhas desculpas começam aqui, antes das de todos os outros.
Lamento por mim mesma,
Por me tratar pior do que eu faria com qualquer outra pessoa.

Por me culpar por sua infelicidade.
Pela minha impaciência quando eu estava perfeita onde estava.
Por ignorar todos os sinais de que eu não estava pronta.
E por me obrigar a estar onde você queria que eu estivesse.

Para quem devo a primeira desculpa?
Ninguém é tão cruel quanto tenho sido comigo mesma.

Lamento por mim mesma,
Minhas desculpas começam aqui, antes das de todos os outros.
Lamento por mim mesma,
Por me tratar pior do que eu faria com qualquer outra pessoa.

E me pergunto qual é o maior crime...
Esquecer de você ou de mim mesma?
Prestei atenção à sabedoria ou ao atraso?
Eu teria naturalmente adorado a primeira opção.

Por ignorar vocês, minhas vozes intensas.
Por sorrir quando minha luta era tão óbvia.
Por estar tão desassociada ao meu corpo.
Por não deixar rolar quando essa era a melhor coisa a fazer.

Para quem devo a maior desculpa?
Ninguém é tão cruel quanto tenho sido comigo mesma.

Lamento por mim mesma,
Minhas desculpas começam aqui, antes das de todos os outros.
Lamento por mim mesma,
Por me tratar pior do que eu faria com qualquer outra pessoa.

(Alanis Morissette - Sorry to myself)

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Elevações

Você acha que sabe como me sinto, e finge entender minha situação, minha falta de perspectiva, minha agonia interior, meus distúrbios emocionais, mas a verdade é que você não faz idéia do que é ter consciência de si mesmo. Às vezes, essa consciência vem tão forte e reveladora, que chega a doer fisicamente, me levando a querer me punir, me flagelar, e às vezes, me levando a fazer isto de fato. Então, você me vê, e me manda um sorriso forçadamente terno, tentando de alguma forma camuflar o seu verdadeiro conceito sobre mim, a sua agonia em me ter por perto e principalmente o medo da suposta força adversária que represento pra você.

Você diz que não sabe como consigo ser tão auto-destrutiva. Não existe mais o que destruir. Você escuta isso, e diz que sou exagerada e ingrata com Deus, a vida, o cósmo e sei lá mais quem. Gratidão é algo que não se sente por obrigação ou conveniência. Sente-se por reconhecimento de algo bom.

Você diz que sou tão triste, que meu olhar é sempre vago e distante. Então, você se aproxima de mim e tenta me dar algum prazer sexual, como se dessa forma eu/você pudesse manter meu corpo ocupado em sentir o seu. Mas, nem sempre eu sinto. Às vezes, não te sinto dentro de mim. Estou tão compenetrada em me imaginar num plano superior que simplesmente não te sinto. Então, olho para o teto de algum quarto qualquer, na esperança de que ele se abra e algo de bom me seja mostrado dos céus. Isso nunca acontece. Volto a mim, e o único movimento que percebo é do seu corpo tentando entrar cada vez mais no meu.

Minha apatia te frustra. Sua esperança em tentar conseguir o melhor de mim me deprime.

domingo, 25 de fevereiro de 2007

Explicando Sheyla

Devo me envergonhar por ter o que tenho entre minhas pernas? Ah, é? Por que? Será que é porque você se sente tão fatidicamente atraído pela minha essência (não por mim), que não encontra outra maneira de lidar com isso, exceto me difamar e me humilhar? Claro que essa difamação e humilhação só acontece na sua cabeça, pois sua ignorância não me afeta ao ponto de me magoar ou me humilhar, e sim ao ponto de me deixar com raiva e ódio de ti e de todos (e são muitos, homens e mulheres) iguais a ti. Tenho orgulho de mim, com todos os meus desejos, cheiros, órgãos, idéias e todo o resto que me faz ser o que sou. E você vem nos chamar (eu e todas as mulheres que se negam a aceitar os seus obsurdos) de vagabundas, putas e similares. Adoro quando você fala assim de nós. Adoro mesmo, querido tio, querido avô, querido "amigo", querido estranho, querido moço da TV, querido moço do rádio, querido colega de trabalho, querida avó amélia, querida tia submissa, querida mãe, querido pai. E depois dizem que eu é que vivo generalizando as coisas, rotulando tudo e todos, especialmente os homens e suas ações e ideías padronizadas e machistas. Não, não generalizo, apenas contabilizo. Isso já não é apenas machismo. Isso é a violação dos direitos que um ser humano tem de ser respeitado. Estou grávida desde os 14 anos. Estou com 21, agora. Me pergunto onde foi parar minha barriga. Por que será que não sinto o meu bebê? Acho que ele está morto, tão morto quanto minha fé na bondade e conscientização do ser humano, tão morto quanto a chance de você ser um verdadeiro ser. Nem se você nascesse de novo, isso seria possível. E você me rotula como feminista. Querido, se você não fosse tão ignorante, saberia de fato o que é ser feminista, mas nem isso você sabe. Mas eu te explico, meu pequeno anjo caído. Ser feminista é querer para o sexo feminino toda a superioridade e importância que você atribui ao que você tem no meio das suas pernas. Você entendeu agora? Me fiz clara? Certo. Agora vou te explicar o que eu defendo. Defendo a igualdade dos sexos, sem diferença nenhuma, exceto pelas diferenças orgânicas, fisiológicas e morfológicas. Mas você não sabe o que é isso, não é? Pra você sou apenas uma menininha que está querendo se passar por mulher, e que precisa mesmo é de um homem viril e "comedor" que bata na sua cara e segure suas rédias, como você faz com sua "mulher". Isso é tão arcáico e grotesco. E você me chama de "vulgar" por deixar bem claro que adoro fazer sexo. Mas você acha justo utilizar termos como "comer" e "dar". Eu não dou, querido. Eu faço sexo, eu compartilho meu corpo, eu divido momentos de prazer intenso, eu troco fluídos e acima de tudo, eu RECEBO tudo isto também. E ninguém me "come", não, pois não sou comida pra ser comida. Só gostaria de saber de onde tiraram essa expressão "comer".

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Olhar para você ainda há pouco me fez ver o quanto você é frágil. Suas roupas simples, sua aparência humilde, sua falta de perspectiva com relação ao seu futuro (e acho que ao meu também), seus medos, seus vícios incontroláveis... Tudo isso me fez sentir tanta compaixão que me levou ao ponto de abraçá-lo, da mesma exata maneira que você me abraçava quando eu era criança. Tua força é uma virtude que invejo. Me arrependo por ter te dado tão pouco. Mas o teu descontrole sempre me petrificou. E ainda petrifica, pai.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

O de sempre

E esse mal humor que nunca acaba. Parece sono ou cansaço, mas não é. É simplesmente um mal humor desgraçado que me faz querer ficar longe de tudo, todos e todas, e independente do que eu faça, ele nunca passa. E é nesse, entre outros momentos, que eu gostaria de poder sair de dentro de mim e não voltar mais. Vagar em algum lugar ou estação calma e segura. É como em "Would not come". Nada do que eu faça ou fale pode me tirar de mim... E isso me cansa e cansa as pessoas ao meu redor. Mas não posso fazer nada.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

Dirty

Minha falta de disciplina está me matando...
Tão relapsa, dispersa e (não!!!) superficial...
Uso meu tempo perdido com vãs tentativas de salvação,
Como desculpa para me auto-afligir
Tenho sido inegavelmente anti-ética
O que repugno tornou-se minha válvula de escape
Isso é tão vergonhoso
Me sinto irreversivelmente devassada
Por meu desejo de auto-salvação
Minha mente está confusa

(Sheyla Fernandes - 12/12/2005)

Deepness

Meu cansaço está me matando
Minha cabeça dói
Meus olhos molham meu rosto
Minha boca sufoca com seu próprio silêncio
Minha voz se embarga por não dizer o que deve
Meu espírito confundi-se em si mesmo
Meus desejos me traem
Meus fundamentos desmoronam-se
Minhas convicções caluniam-se
Minhas contradições me apavoram
Meus seres preferidos me abandonam
Tudo junto, tudo fundo, tudo imundo...
Estou inundada de mim
E carente de meu ser
Seriedade,
Serenidade,
Sinceridade,
Severidade...
Isto sou eu,
Um poço sem fim

(Sheyla Fernandes - 11/10/2004)

The same old fears

Ah, e esse medo de ser trocada pela facilidade e beleza fulgaz do outro mundo... É o mesmo medo de sempre. O velho e companheiro medo. "The same old fears". Se você continuar a canção, saberá exatamente como me sinto.
É, Janis, não deu pra te ouvir hoje também. Achei que o problema fosse a pilha, mas me enganei. Vou ter que dar um jeito de te ouvir. Talvez se eu resmungar "To love somebody" adiante alguma coisa. Mas não seria o mesmo que te ouvir. Faz tanto frio aqui nessa droga de lugar. Não aguento mais essa chuva, esse cheiro, essas "músicas", essa gente fútil e superficial. Caminhei pela praia hoje a tarde. Caminhei em busca de paz de espírito e na esperança de ver quem eu quero. Mas nenhum dos dois objetivos foi alcançado. Minha caminhada de 4 horas só serviu para cansar minhas pernas e para me lembrar do quanto estou caminhando do lado errado da minha vida. Me sinto tão suja quando olho pra mim mesma. Tento justificar meus atos como feitos por um tipo de vingança. E sei que foi. Eu só queria entender os teus. Por que me trair? Por que me humilhar? Por que me ofender? Chorei tanto por ti, por mim e principalmente por nós. E ainda choro. Falei pra você que parece que essa minha tristeza não vai acabar nunca. E realmente, ela nunca vai acabar. Sempre vou lembrar do que vivemos, da forma como vivemos e quando chegar nesse ponto ficarei triste. Essa sensação de insuficiência... Sempre tivesse o poder de fazer eu me sentir assim, e mesmo agora, depois de meses sem te ver, ainda me sinto assim. São muitas as dores, muitos os sentimentos que machucam, mas esse é o mais cruel. Insuficiência. O que me consola é saber que você foi muito mais insuficiente do que jamais serei em toda a minha vida. Isso me consola e me dá forças pra recomeçar. E estou recomeçando. Maravilhosamente bem.

(19/02/2007)

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

Madrugada. Uma hora da manhã??? Talvez... não tenho relógio aqui. Estou sozinha, pois todos foram para a festa na droga de praia. A luz na barraca não está muito forte, apenas o suficiente para eu enchergar o que escrevo. Chove e faz frio. A Janis já não chora mais para mim, pois acabou a pilha. Agora só amanhã, droga. Os únicos barulhos que escuto agora são os insetos, a poluição sonora que ousam chamar de música e os pingos da chuva na barraca. Para alguns isso seria a descrição perfeita do tédio, mas não para mim. Gosto de ficar sozinha em lugares quietos. Isso me faz pensar. E estou pensando, pensando em várias coisas, especialmente em você. Me pergunto onde você está agora, o que está fazendo, como está se sentindo, se pensou em mim em algum momento. Te procurei na praia sábado a tarde. Não te achei, então subi alguns morros e tentei explorar alguns lugares. Nunca me senti tão perto da morte.

Pintura

Eu pintaria você se eu pudesse. Pintaria teus traços, tua feição, cada detalhe do teu rosto, que está ficando cada vez mais íntimo e querido para mim. Teus olhos expressivos, tua boca delicada, teu nariz, tua barba que me excita toda vez que encosta na minha pele, teus cabelos... Pintaria até aquela mecha encaracolada que sempre teima em cair no teu rosto, mecha que tenho vontade de enrolar nos dedos toda vez que a vejo. Adoro os teus cabelos. Seria difícil pintar você em todos os detalhes. Teu rosto é muito rico. Mas, mais difícil do que pintar teu rosto seria transcrever para a tela a singularidade que emana de você. Isso sim seria impossível. Nunca conheci alguém como você. Será tão fácil me envolver.

(18/02/2007)

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Há 35 minutos atrás você foi embora, me deixando com seu gosto na minha boca, com seu cheiro nas minhas roupas, com suas palavras na minha cabeça e com a agradável sensação de te ter perto de mim. Estou encantada com todos os lados e facetas que você tem me mostrado. Sei que tenho muito mais parar ver, assim como tenho muito pra mostrar ainda. Lados bons e lados ruins, tanto seus quanto meus. E estou muito disposta a ver e a mostrar.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

Por que ninguém apreendi cargas de cerveja? Ou de vinho? Ou de cigarros? Por que essa cisma com as tais drogas "ilícitas"? Nossa, definiram e padronizaram até o que posso e o que não posso usar pra me entorpecer. Tipo, posso me entorpecer, mas só se for de cerveja e similares. Posso tomar aquela cervejada num almoço de domingo com a "família", mas não posso entupir minhas veias com heroína ou meu nariz com cocaína, ou tomar metadona. Engraçado, fiquei muito mais "doidona" quando tomei 3 copos de cerveja no batizado católico de um priminho recém nascido do que quando fumei maconha pelada na cama com meu ex-namorado. A cervejinha servida em reuniões familiares faz muito mais mal do que a maconha fumada por jovens em festas. E a sociedade sabe disso? E se soubesse, retiraria esse rótulo de "vagabundo sem vergonha" dos que usam maconha ou qualquer outra droga "ilícita"? É claro que não. Não defendo o uso de drogas. Defendo a liberdade de escolher para si o que quer que seja. Se quero destruir meu organismo de maneira rápida e eficaz usando heroína, isso é problema meu. Terei uma overdose em alguns poucos anos ou tavez meses e pronto. Se quero destruir meu organismo de maneira lenta usando cerveja, isso também é problema meu. Terei uma cirrose depois de muitos anos e pronto. O governo ou a sociedade não tem nada com isso. Vou destruir minha família? Irei apenas terminar de destruir minha família, pois se cheguei ao ponto de querer me destruir através das drogas, então minha familia já está destruída há muito tempo. Aí eles usam o argumento de que o drogado (leia-se as pessoas que usam drogas "ilícitas") só faz coisas horríveis quando está sob o efeito das drogas (leia-se drogas "ilícitas"). Agora me diz quanto ao pai que chega bêbado em casa e espanca sua esposa na frente de sua filha de 12 anos e de seu filho de 9? Ou quanto ao padrasto que chega em casa com a cara cheia de cerveja e tenta estuprar a entiada de 19 anos, e a mãe dela vê tudo e diz pra ela "deixar pra lá", pois ele estava apenas "bêbado"? Eu não posso mais com isso...

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Vulgar? É isso o que sou pra você, mãe? Por que? Me diz por que? Será que é porque adoro fazer sexo, faço sexo, assumo que faço sexo e admito isso diante de quem quer que seja? Será que é porque tenho a coragem e sinceridade que você nunca teve (e talvez nunca terá) para assumir o que sou? Transar escondido dos pais e da sociedade hipócrita e falsa. Não faço isso por ninguém, nem mesmo por você. Doeu muito ouvir aquilo da sua boca. "Vulgar!!!!!!!!", gritado aos berros. Mas as dores passam. As palavras não.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Influências...

"Tudo que é forma de vida procuro afastar. Tento isolar-me para encontrar a vida em si mesma. No entanto apoiei-me demais no jogo que distrai e consola e quando dele me afasto, encontro-me bruscamente sem amparo. No momento em que fecho a porta atrás de mim, instantaneamente me desprendo das coisas. Tudo que foi distancia-se de mim, mergulhando lentamente nas minhas águas longínquas. Ouço-a, a queda. Desolada e sufocada espero por mim mesma, espero que lentamente me eleve e surja verdadeira diante dos meus olhos. Em vez de me obter com a fuga, vejo-me desemparada e solitária, jogada num cubículo sem dimensões, onde a luz e a sombra são fantasmas quietos. No meu interior encontro o silêncio procurado."

(Trecho de "Perto do coração selvagem", de Clarice Lispector, p.81)

Nostalgia de mim

Onde estou?
Não me vejo...
Há muito estou alheia a mim.
Há muito...
Surpreendo algo impreciso e indefinível
Tentando desesperadamente se desprender,
Se libertar de correntes sociais.
Isto sou eu?
Estou perdida...
Onde estou?
Não me encontro...
Será que aquilo fundido ao nada,
Diluído em silêncio, sou eu?
Silêncio e nada...
Me sinto sufocada e vazia.
Sim, talvez eu esteja lá,
No silêncio e no nada.
Eu estou em mim.

(Sheyla Fernandes - 04/01/2004)

Visão interior

Olhar para dentro de mim.
Sou capaz?
Parcialmente, sim...
Vejo um amontoado de carnes e ossos jovens.
Vejo um organismo frágil e deliberadamente mal tratado.
Observo sensações proibidas espraiando-se por cada fibra.
Espreito desejos supostamente perversos inundando cada reentrância.
Vejo sentimentos sufocarem reações.
Vejo reações sufocarem sentimentos.
Contemplo princípios honrados e construtivos,
Porém desprovidos da tão chamada "moralidade".
Desespero-me assistindo padrões socialmente determinados
Imobilizarem sentimentos expansivos,
Estereotiparem reações genuínas.
Observo com mãos atadas, fatores externos
Impedirem evoluções interiores.
Vejo ódio diluído em sangue espalhando-se por todas as veias.
Debato-me vendo um cérebro enloquecendo
Por não encontrar respostas,
Por não descobrir razões e soluções,
E principalmente, por não aceitar ser o que é.

(Sheyla Fernandes - 09/12/2003)

Desabafo

Não é dentro de uma igreja ou fora dela que encontra-se Deus.
É dentro de si mesmo.
E eu não o encontrei.

11/10/2003

Inoperância

O que sou quando penso em mim?
O que vejo quando me avalio,
Pesando prós e contras,
De um ser contrariado
E em si mesmo abandonado?

Confusão..
Perdição...
Solidão...
Me encontro envolta em lugares inóspitos,
Grotas imundas
No meu ser cavocadas.

Lamentações tornaram-se desleais.
Chorar já não é suficiente.
Sufocar-me não mais consola.
Desertar de meu ser... é ineficaz,
Porém necessário.

Um canto à vida,
Cortejado pela morte
No íntimo estampada.

(Sheyla Fernandes - 09/01/2003)

Prisão

Em busca de aprovação
Sujeitei-me à opiniões alheias,
De quem nem humano é,
Apenas vive de padrões e modelos.

Em busca de aceitação
Submeti-me à escárnios e gozações
Daqueles que riem de tudo
Sem ao menos acharem graça.

Em busca de auto-afirmação
Julguei-me capaz de aceitar-me
Pelo o que realmente sou,
Sem, supostamente, importar-me com os outros.

Em busca de libertação
Sufoquei pensamentos e sentimentos
Sem perceber que apenas
Aprisionei-me ainda mais,

Dentro de minha tão preciosa
E segura prisão: auto-piedade.

(Sheyla Fernandes - 09/01/2003)

Conto sem fadas

Meus olhos não suportam o que vêem
Meus ouvidos não acreditam no que lhes é gritado
Meu cérebro não encontra lógica no que lhe é transmitido
E meu coração...
Meu coração bombeia indignação para todo o meu ser.
Estou apodrecendo, me decompondo por dentro.
Na verdade todos estão, mas preferem não perceber.
Ou fingem não perceber.
Sim, fingem... é menos desesperador.
É mais simples e cômodo culpar um pai, uma mãe
Ou amores perdidos, por uma lágrima escorrida.
É menos deprimente encarar um problema terreno
Como causa de uma tristeza incurável e desoladora.
É mais fácil e mais hipócrita.
Todos chamam de ciclo da vida
Aquilo que lhes acontece de ruim.
Todos dizem ser o rumo natural das coisas
O fato de ter suas vidas desgraçadas.
Todos nomeiam como "destino"
O que lhes é imposto sem motivo ou explicação.
Ninguém procura a essência - pelo menos sincera e profundamente - das coisas.
Talvez porque se a procurarem e a encontrarem,
Saberão que isto tudo é inútil e vão.
Descubrirão que nada é válido e certo,
E poderão, assim como eu, justificar
E validar suas ações (boas ou ruins),
Seus pensamentos (construtivos ou destrutivos),
Poderão regrar suas vidas
De acordo com o que essa "essência" rege.
Mas afinal, não é isso que já estão fazendo?
Sim...
E de forma pesarosamente letal,
Pois fundamentaram o material e destrutível: o dinheiro.
E nesse meio tempo,
As crianças morrem.
E nesse meio tempo,
As almas morrem.

(Sheyla Fernandes - 10/08/2003)

Niilismo

Quero cuspir um dia no futuro...
Tentar resgatar a essência perdida
Do que não tem fundamento.
Quem sabe assim descubro uma razão...

Quero cuspir um dia no futuro...
No futuro de quem não tem presente,
Nem passado,
De quem nem vivo é... não existencialmente.

O que é existir?
É respirar ar impuro?
Sentir toques falsos?
Apreciar belezas artificiais?
Ouvir sussurros planejados?
Acreditar em promessas pagãs?
Idealizar valores descartáveis?
Entregar-se ao incerto? Ao acaso?
Não sei...
Quem sabe? Vocês?

Quero cuspir um dia no futuro...
Tentar dar um sentido
Ao jogo sórdido denominado vida.
Vida...
Não sei o que é isso.
Um jogo, naturalmente,
Mas com qual objetivo?
Santidade da carne?
Espiritualidade da alma?
Evolução da mente?
Não sei...
Quem sabe? Vocês?

Minha poesia é suburbana,
Sem estrutura e sem sentido,
Sórdida e podre,
Exatamente como... a vida!
Sim, a vida...
Seria essa uma definição
Do que é tal jogo?
Quem sabe? Vocês?

Benevolar o mal?
Ou malevolar o bem?
Não sei o que é certo ou errado,
O que compelir ou repelir.
Vou queimar eternamente
Por duvidar ou acreditar?
Eu não pedi para existir...
Não pedi, não pedi.
Me jogaram aqui,
Sem se importar com minha alma,
Me empurrando conceitos e teorias,
Credos que desconheço.
O que fizeram de minha "vida"?
Não sei...
Quem sabe? Vocês?
Ninguém.

(Sheyla Fernandes - 01/06/2003)