quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Elevações

Você acha que sabe como me sinto, e finge entender minha situação, minha falta de perspectiva, minha agonia interior, meus distúrbios emocionais, mas a verdade é que você não faz idéia do que é ter consciência de si mesmo. Às vezes, essa consciência vem tão forte e reveladora, que chega a doer fisicamente, me levando a querer me punir, me flagelar, e às vezes, me levando a fazer isto de fato. Então, você me vê, e me manda um sorriso forçadamente terno, tentando de alguma forma camuflar o seu verdadeiro conceito sobre mim, a sua agonia em me ter por perto e principalmente o medo da suposta força adversária que represento pra você.

Você diz que não sabe como consigo ser tão auto-destrutiva. Não existe mais o que destruir. Você escuta isso, e diz que sou exagerada e ingrata com Deus, a vida, o cósmo e sei lá mais quem. Gratidão é algo que não se sente por obrigação ou conveniência. Sente-se por reconhecimento de algo bom.

Você diz que sou tão triste, que meu olhar é sempre vago e distante. Então, você se aproxima de mim e tenta me dar algum prazer sexual, como se dessa forma eu/você pudesse manter meu corpo ocupado em sentir o seu. Mas, nem sempre eu sinto. Às vezes, não te sinto dentro de mim. Estou tão compenetrada em me imaginar num plano superior que simplesmente não te sinto. Então, olho para o teto de algum quarto qualquer, na esperança de que ele se abra e algo de bom me seja mostrado dos céus. Isso nunca acontece. Volto a mim, e o único movimento que percebo é do seu corpo tentando entrar cada vez mais no meu.

Minha apatia te frustra. Sua esperança em tentar conseguir o melhor de mim me deprime.

domingo, 25 de fevereiro de 2007

Explicando Sheyla

Devo me envergonhar por ter o que tenho entre minhas pernas? Ah, é? Por que? Será que é porque você se sente tão fatidicamente atraído pela minha essência (não por mim), que não encontra outra maneira de lidar com isso, exceto me difamar e me humilhar? Claro que essa difamação e humilhação só acontece na sua cabeça, pois sua ignorância não me afeta ao ponto de me magoar ou me humilhar, e sim ao ponto de me deixar com raiva e ódio de ti e de todos (e são muitos, homens e mulheres) iguais a ti. Tenho orgulho de mim, com todos os meus desejos, cheiros, órgãos, idéias e todo o resto que me faz ser o que sou. E você vem nos chamar (eu e todas as mulheres que se negam a aceitar os seus obsurdos) de vagabundas, putas e similares. Adoro quando você fala assim de nós. Adoro mesmo, querido tio, querido avô, querido "amigo", querido estranho, querido moço da TV, querido moço do rádio, querido colega de trabalho, querida avó amélia, querida tia submissa, querida mãe, querido pai. E depois dizem que eu é que vivo generalizando as coisas, rotulando tudo e todos, especialmente os homens e suas ações e ideías padronizadas e machistas. Não, não generalizo, apenas contabilizo. Isso já não é apenas machismo. Isso é a violação dos direitos que um ser humano tem de ser respeitado. Estou grávida desde os 14 anos. Estou com 21, agora. Me pergunto onde foi parar minha barriga. Por que será que não sinto o meu bebê? Acho que ele está morto, tão morto quanto minha fé na bondade e conscientização do ser humano, tão morto quanto a chance de você ser um verdadeiro ser. Nem se você nascesse de novo, isso seria possível. E você me rotula como feminista. Querido, se você não fosse tão ignorante, saberia de fato o que é ser feminista, mas nem isso você sabe. Mas eu te explico, meu pequeno anjo caído. Ser feminista é querer para o sexo feminino toda a superioridade e importância que você atribui ao que você tem no meio das suas pernas. Você entendeu agora? Me fiz clara? Certo. Agora vou te explicar o que eu defendo. Defendo a igualdade dos sexos, sem diferença nenhuma, exceto pelas diferenças orgânicas, fisiológicas e morfológicas. Mas você não sabe o que é isso, não é? Pra você sou apenas uma menininha que está querendo se passar por mulher, e que precisa mesmo é de um homem viril e "comedor" que bata na sua cara e segure suas rédias, como você faz com sua "mulher". Isso é tão arcáico e grotesco. E você me chama de "vulgar" por deixar bem claro que adoro fazer sexo. Mas você acha justo utilizar termos como "comer" e "dar". Eu não dou, querido. Eu faço sexo, eu compartilho meu corpo, eu divido momentos de prazer intenso, eu troco fluídos e acima de tudo, eu RECEBO tudo isto também. E ninguém me "come", não, pois não sou comida pra ser comida. Só gostaria de saber de onde tiraram essa expressão "comer".

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Olhar para você ainda há pouco me fez ver o quanto você é frágil. Suas roupas simples, sua aparência humilde, sua falta de perspectiva com relação ao seu futuro (e acho que ao meu também), seus medos, seus vícios incontroláveis... Tudo isso me fez sentir tanta compaixão que me levou ao ponto de abraçá-lo, da mesma exata maneira que você me abraçava quando eu era criança. Tua força é uma virtude que invejo. Me arrependo por ter te dado tão pouco. Mas o teu descontrole sempre me petrificou. E ainda petrifica, pai.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

O de sempre

E esse mal humor que nunca acaba. Parece sono ou cansaço, mas não é. É simplesmente um mal humor desgraçado que me faz querer ficar longe de tudo, todos e todas, e independente do que eu faça, ele nunca passa. E é nesse, entre outros momentos, que eu gostaria de poder sair de dentro de mim e não voltar mais. Vagar em algum lugar ou estação calma e segura. É como em "Would not come". Nada do que eu faça ou fale pode me tirar de mim... E isso me cansa e cansa as pessoas ao meu redor. Mas não posso fazer nada.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

Dirty

Minha falta de disciplina está me matando...
Tão relapsa, dispersa e (não!!!) superficial...
Uso meu tempo perdido com vãs tentativas de salvação,
Como desculpa para me auto-afligir
Tenho sido inegavelmente anti-ética
O que repugno tornou-se minha válvula de escape
Isso é tão vergonhoso
Me sinto irreversivelmente devassada
Por meu desejo de auto-salvação
Minha mente está confusa

(Sheyla Fernandes - 12/12/2005)

Deepness

Meu cansaço está me matando
Minha cabeça dói
Meus olhos molham meu rosto
Minha boca sufoca com seu próprio silêncio
Minha voz se embarga por não dizer o que deve
Meu espírito confundi-se em si mesmo
Meus desejos me traem
Meus fundamentos desmoronam-se
Minhas convicções caluniam-se
Minhas contradições me apavoram
Meus seres preferidos me abandonam
Tudo junto, tudo fundo, tudo imundo...
Estou inundada de mim
E carente de meu ser
Seriedade,
Serenidade,
Sinceridade,
Severidade...
Isto sou eu,
Um poço sem fim

(Sheyla Fernandes - 11/10/2004)

The same old fears

Ah, e esse medo de ser trocada pela facilidade e beleza fulgaz do outro mundo... É o mesmo medo de sempre. O velho e companheiro medo. "The same old fears". Se você continuar a canção, saberá exatamente como me sinto.
É, Janis, não deu pra te ouvir hoje também. Achei que o problema fosse a pilha, mas me enganei. Vou ter que dar um jeito de te ouvir. Talvez se eu resmungar "To love somebody" adiante alguma coisa. Mas não seria o mesmo que te ouvir. Faz tanto frio aqui nessa droga de lugar. Não aguento mais essa chuva, esse cheiro, essas "músicas", essa gente fútil e superficial. Caminhei pela praia hoje a tarde. Caminhei em busca de paz de espírito e na esperança de ver quem eu quero. Mas nenhum dos dois objetivos foi alcançado. Minha caminhada de 4 horas só serviu para cansar minhas pernas e para me lembrar do quanto estou caminhando do lado errado da minha vida. Me sinto tão suja quando olho pra mim mesma. Tento justificar meus atos como feitos por um tipo de vingança. E sei que foi. Eu só queria entender os teus. Por que me trair? Por que me humilhar? Por que me ofender? Chorei tanto por ti, por mim e principalmente por nós. E ainda choro. Falei pra você que parece que essa minha tristeza não vai acabar nunca. E realmente, ela nunca vai acabar. Sempre vou lembrar do que vivemos, da forma como vivemos e quando chegar nesse ponto ficarei triste. Essa sensação de insuficiência... Sempre tivesse o poder de fazer eu me sentir assim, e mesmo agora, depois de meses sem te ver, ainda me sinto assim. São muitas as dores, muitos os sentimentos que machucam, mas esse é o mais cruel. Insuficiência. O que me consola é saber que você foi muito mais insuficiente do que jamais serei em toda a minha vida. Isso me consola e me dá forças pra recomeçar. E estou recomeçando. Maravilhosamente bem.

(19/02/2007)

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

Madrugada. Uma hora da manhã??? Talvez... não tenho relógio aqui. Estou sozinha, pois todos foram para a festa na droga de praia. A luz na barraca não está muito forte, apenas o suficiente para eu enchergar o que escrevo. Chove e faz frio. A Janis já não chora mais para mim, pois acabou a pilha. Agora só amanhã, droga. Os únicos barulhos que escuto agora são os insetos, a poluição sonora que ousam chamar de música e os pingos da chuva na barraca. Para alguns isso seria a descrição perfeita do tédio, mas não para mim. Gosto de ficar sozinha em lugares quietos. Isso me faz pensar. E estou pensando, pensando em várias coisas, especialmente em você. Me pergunto onde você está agora, o que está fazendo, como está se sentindo, se pensou em mim em algum momento. Te procurei na praia sábado a tarde. Não te achei, então subi alguns morros e tentei explorar alguns lugares. Nunca me senti tão perto da morte.

Pintura

Eu pintaria você se eu pudesse. Pintaria teus traços, tua feição, cada detalhe do teu rosto, que está ficando cada vez mais íntimo e querido para mim. Teus olhos expressivos, tua boca delicada, teu nariz, tua barba que me excita toda vez que encosta na minha pele, teus cabelos... Pintaria até aquela mecha encaracolada que sempre teima em cair no teu rosto, mecha que tenho vontade de enrolar nos dedos toda vez que a vejo. Adoro os teus cabelos. Seria difícil pintar você em todos os detalhes. Teu rosto é muito rico. Mas, mais difícil do que pintar teu rosto seria transcrever para a tela a singularidade que emana de você. Isso sim seria impossível. Nunca conheci alguém como você. Será tão fácil me envolver.

(18/02/2007)

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Há 35 minutos atrás você foi embora, me deixando com seu gosto na minha boca, com seu cheiro nas minhas roupas, com suas palavras na minha cabeça e com a agradável sensação de te ter perto de mim. Estou encantada com todos os lados e facetas que você tem me mostrado. Sei que tenho muito mais parar ver, assim como tenho muito pra mostrar ainda. Lados bons e lados ruins, tanto seus quanto meus. E estou muito disposta a ver e a mostrar.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

Por que ninguém apreendi cargas de cerveja? Ou de vinho? Ou de cigarros? Por que essa cisma com as tais drogas "ilícitas"? Nossa, definiram e padronizaram até o que posso e o que não posso usar pra me entorpecer. Tipo, posso me entorpecer, mas só se for de cerveja e similares. Posso tomar aquela cervejada num almoço de domingo com a "família", mas não posso entupir minhas veias com heroína ou meu nariz com cocaína, ou tomar metadona. Engraçado, fiquei muito mais "doidona" quando tomei 3 copos de cerveja no batizado católico de um priminho recém nascido do que quando fumei maconha pelada na cama com meu ex-namorado. A cervejinha servida em reuniões familiares faz muito mais mal do que a maconha fumada por jovens em festas. E a sociedade sabe disso? E se soubesse, retiraria esse rótulo de "vagabundo sem vergonha" dos que usam maconha ou qualquer outra droga "ilícita"? É claro que não. Não defendo o uso de drogas. Defendo a liberdade de escolher para si o que quer que seja. Se quero destruir meu organismo de maneira rápida e eficaz usando heroína, isso é problema meu. Terei uma overdose em alguns poucos anos ou tavez meses e pronto. Se quero destruir meu organismo de maneira lenta usando cerveja, isso também é problema meu. Terei uma cirrose depois de muitos anos e pronto. O governo ou a sociedade não tem nada com isso. Vou destruir minha família? Irei apenas terminar de destruir minha família, pois se cheguei ao ponto de querer me destruir através das drogas, então minha familia já está destruída há muito tempo. Aí eles usam o argumento de que o drogado (leia-se as pessoas que usam drogas "ilícitas") só faz coisas horríveis quando está sob o efeito das drogas (leia-se drogas "ilícitas"). Agora me diz quanto ao pai que chega bêbado em casa e espanca sua esposa na frente de sua filha de 12 anos e de seu filho de 9? Ou quanto ao padrasto que chega em casa com a cara cheia de cerveja e tenta estuprar a entiada de 19 anos, e a mãe dela vê tudo e diz pra ela "deixar pra lá", pois ele estava apenas "bêbado"? Eu não posso mais com isso...

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Vulgar? É isso o que sou pra você, mãe? Por que? Me diz por que? Será que é porque adoro fazer sexo, faço sexo, assumo que faço sexo e admito isso diante de quem quer que seja? Será que é porque tenho a coragem e sinceridade que você nunca teve (e talvez nunca terá) para assumir o que sou? Transar escondido dos pais e da sociedade hipócrita e falsa. Não faço isso por ninguém, nem mesmo por você. Doeu muito ouvir aquilo da sua boca. "Vulgar!!!!!!!!", gritado aos berros. Mas as dores passam. As palavras não.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Influências...

"Tudo que é forma de vida procuro afastar. Tento isolar-me para encontrar a vida em si mesma. No entanto apoiei-me demais no jogo que distrai e consola e quando dele me afasto, encontro-me bruscamente sem amparo. No momento em que fecho a porta atrás de mim, instantaneamente me desprendo das coisas. Tudo que foi distancia-se de mim, mergulhando lentamente nas minhas águas longínquas. Ouço-a, a queda. Desolada e sufocada espero por mim mesma, espero que lentamente me eleve e surja verdadeira diante dos meus olhos. Em vez de me obter com a fuga, vejo-me desemparada e solitária, jogada num cubículo sem dimensões, onde a luz e a sombra são fantasmas quietos. No meu interior encontro o silêncio procurado."

(Trecho de "Perto do coração selvagem", de Clarice Lispector, p.81)

Nostalgia de mim

Onde estou?
Não me vejo...
Há muito estou alheia a mim.
Há muito...
Surpreendo algo impreciso e indefinível
Tentando desesperadamente se desprender,
Se libertar de correntes sociais.
Isto sou eu?
Estou perdida...
Onde estou?
Não me encontro...
Será que aquilo fundido ao nada,
Diluído em silêncio, sou eu?
Silêncio e nada...
Me sinto sufocada e vazia.
Sim, talvez eu esteja lá,
No silêncio e no nada.
Eu estou em mim.

(Sheyla Fernandes - 04/01/2004)

Visão interior

Olhar para dentro de mim.
Sou capaz?
Parcialmente, sim...
Vejo um amontoado de carnes e ossos jovens.
Vejo um organismo frágil e deliberadamente mal tratado.
Observo sensações proibidas espraiando-se por cada fibra.
Espreito desejos supostamente perversos inundando cada reentrância.
Vejo sentimentos sufocarem reações.
Vejo reações sufocarem sentimentos.
Contemplo princípios honrados e construtivos,
Porém desprovidos da tão chamada "moralidade".
Desespero-me assistindo padrões socialmente determinados
Imobilizarem sentimentos expansivos,
Estereotiparem reações genuínas.
Observo com mãos atadas, fatores externos
Impedirem evoluções interiores.
Vejo ódio diluído em sangue espalhando-se por todas as veias.
Debato-me vendo um cérebro enloquecendo
Por não encontrar respostas,
Por não descobrir razões e soluções,
E principalmente, por não aceitar ser o que é.

(Sheyla Fernandes - 09/12/2003)

Desabafo

Não é dentro de uma igreja ou fora dela que encontra-se Deus.
É dentro de si mesmo.
E eu não o encontrei.

11/10/2003

Inoperância

O que sou quando penso em mim?
O que vejo quando me avalio,
Pesando prós e contras,
De um ser contrariado
E em si mesmo abandonado?

Confusão..
Perdição...
Solidão...
Me encontro envolta em lugares inóspitos,
Grotas imundas
No meu ser cavocadas.

Lamentações tornaram-se desleais.
Chorar já não é suficiente.
Sufocar-me não mais consola.
Desertar de meu ser... é ineficaz,
Porém necessário.

Um canto à vida,
Cortejado pela morte
No íntimo estampada.

(Sheyla Fernandes - 09/01/2003)

Prisão

Em busca de aprovação
Sujeitei-me à opiniões alheias,
De quem nem humano é,
Apenas vive de padrões e modelos.

Em busca de aceitação
Submeti-me à escárnios e gozações
Daqueles que riem de tudo
Sem ao menos acharem graça.

Em busca de auto-afirmação
Julguei-me capaz de aceitar-me
Pelo o que realmente sou,
Sem, supostamente, importar-me com os outros.

Em busca de libertação
Sufoquei pensamentos e sentimentos
Sem perceber que apenas
Aprisionei-me ainda mais,

Dentro de minha tão preciosa
E segura prisão: auto-piedade.

(Sheyla Fernandes - 09/01/2003)

Conto sem fadas

Meus olhos não suportam o que vêem
Meus ouvidos não acreditam no que lhes é gritado
Meu cérebro não encontra lógica no que lhe é transmitido
E meu coração...
Meu coração bombeia indignação para todo o meu ser.
Estou apodrecendo, me decompondo por dentro.
Na verdade todos estão, mas preferem não perceber.
Ou fingem não perceber.
Sim, fingem... é menos desesperador.
É mais simples e cômodo culpar um pai, uma mãe
Ou amores perdidos, por uma lágrima escorrida.
É menos deprimente encarar um problema terreno
Como causa de uma tristeza incurável e desoladora.
É mais fácil e mais hipócrita.
Todos chamam de ciclo da vida
Aquilo que lhes acontece de ruim.
Todos dizem ser o rumo natural das coisas
O fato de ter suas vidas desgraçadas.
Todos nomeiam como "destino"
O que lhes é imposto sem motivo ou explicação.
Ninguém procura a essência - pelo menos sincera e profundamente - das coisas.
Talvez porque se a procurarem e a encontrarem,
Saberão que isto tudo é inútil e vão.
Descubrirão que nada é válido e certo,
E poderão, assim como eu, justificar
E validar suas ações (boas ou ruins),
Seus pensamentos (construtivos ou destrutivos),
Poderão regrar suas vidas
De acordo com o que essa "essência" rege.
Mas afinal, não é isso que já estão fazendo?
Sim...
E de forma pesarosamente letal,
Pois fundamentaram o material e destrutível: o dinheiro.
E nesse meio tempo,
As crianças morrem.
E nesse meio tempo,
As almas morrem.

(Sheyla Fernandes - 10/08/2003)

Niilismo

Quero cuspir um dia no futuro...
Tentar resgatar a essência perdida
Do que não tem fundamento.
Quem sabe assim descubro uma razão...

Quero cuspir um dia no futuro...
No futuro de quem não tem presente,
Nem passado,
De quem nem vivo é... não existencialmente.

O que é existir?
É respirar ar impuro?
Sentir toques falsos?
Apreciar belezas artificiais?
Ouvir sussurros planejados?
Acreditar em promessas pagãs?
Idealizar valores descartáveis?
Entregar-se ao incerto? Ao acaso?
Não sei...
Quem sabe? Vocês?

Quero cuspir um dia no futuro...
Tentar dar um sentido
Ao jogo sórdido denominado vida.
Vida...
Não sei o que é isso.
Um jogo, naturalmente,
Mas com qual objetivo?
Santidade da carne?
Espiritualidade da alma?
Evolução da mente?
Não sei...
Quem sabe? Vocês?

Minha poesia é suburbana,
Sem estrutura e sem sentido,
Sórdida e podre,
Exatamente como... a vida!
Sim, a vida...
Seria essa uma definição
Do que é tal jogo?
Quem sabe? Vocês?

Benevolar o mal?
Ou malevolar o bem?
Não sei o que é certo ou errado,
O que compelir ou repelir.
Vou queimar eternamente
Por duvidar ou acreditar?
Eu não pedi para existir...
Não pedi, não pedi.
Me jogaram aqui,
Sem se importar com minha alma,
Me empurrando conceitos e teorias,
Credos que desconheço.
O que fizeram de minha "vida"?
Não sei...
Quem sabe? Vocês?
Ninguém.

(Sheyla Fernandes - 01/06/2003)